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Segundo Capítulo de Alegro!! Segundo volume da saga A Inversão que será publicada em Outubro


*Sinopse: Dois anos após os eventos em Recife, onde Nilk e seus amigos impediram o Maestro Angelo Paroccinio de controlar as mentes de alguns dos homens e mulheres mais poderosos do país com uma música entorpecente chamada Inversão: Prelúdio, a aventura cruza a vida do garoto novamente. A organização Suono recruta Nilk e Calvin para que eles achem outra partitura da Inversão – o Alegro, que está guardada por um homem chamado Leonard Flaysk. Isso não é nada para Nilk Narf, mas as coisas se complicam com a morte repentina de Leonard. A Suono agora quer a pele de Nilk a qualquer custo, visto que ele foi a última pessoa a falar com o sujeito.

Nesta aventura literariamente musical, Nilk terá que aprender a fazer as escolhas certas quanto a quem confiar. O nosso BR irritante irá causar problemas ( e depois tentar resolvê-los) em terras russas. Nilk terá que descobrir que segredo a música Alegro guarda, e rápido, porque Angelo Paroccinio está LIVRE.

Capítulo II

GRANDE EQUIPE

Sexta-feira, 2 de abril

Nilk estava deitado de olhos fechados em um dos inúmeros bancos que enchiam as áreas da universidade em que estudava em Salvador. Após superar uma maratona de provas, ele estava exausto; mas satisfeito em lembrar que ali finalizava o segundo semestre do seu curso de licenciatura em física. Nilk havia iniciado a faculdade cerca de um ano após suas aventuras em Recife. Por ser uma instituição pública, sobrava dinheiro para ele pagar um quarto numa hospedagem para passar as semanas, sendo que todo sábado ainda antes de raiar o dia, ele embarcava rumo a sua cidade, Salvação, retornando à capital apenas na segunda-feira para as aulas. Gabriel, em casa, lutava bravamente contra sua depressão, e o progresso de Nilk nos estudos o dava grande alegria, além do emprego que conseguiu para ocupar seu tempo. Calvin fazia um curso técnico de especialização em eletrônica e computação, e auxiliava seu pai Julio, no pequeno comercio de manutenção de aparelhos de telefones celulares. Os dois amigos ainda se viam todo fim de semana, na mesma lanchonete, bebendo a mesma bebida mista de guaraná com açaí. As conversas sobre a semana mais agitada da vida dos dois foram desaparecendo com o passar do tempo, sendo substituída por coisas “mais importantes” como futebol, mulheres, estudos, trabalho, futebol e mulheres. Mas algo iria trazer o tópico de volta ao topo.

Após suas aulas de sexta-feira, Nilk saiu para curtir a cidade com seu colega de escola, Breno Alves. Breno era um jovem de 21 anos, forte fisicamente e festeiro, ainda assim bastante estudioso, o que lhe garantia notas boas, mas, como Nilk disse a Calvin certa vez, estava longe de ser brilhante. Muitas vezes Nilk era incumbido de levar o corpo semivivo do seu colega para casa após os não poucos drinks que rolavam nessas ocasiões. Seria mentira dizer que Nilk nunca precisou de carona enquanto estava apagado e babando depois das festas.

Nas baladas, Breno extravasava toda ansiedade que tanto ele como qualquer aluno da faculdade carregava até os dias das provas. Nilk, por outro lado, preferia as conversinhas moles com as calouras da faculdade. Numa dessas conversas ele conheceu Léia de Assis. Léia era uma caloura que estava estudando letras. Menina muito bonita, morena de atitude e proveniente de uma família conservadora, o que a tornou, no caso dela, uma jovem bem-educada. Nilk e Léia se encontraram algumas vezes nas costumeiras festas pós-faculdade. A palavra “Raquel” não permeava a mente de Nilk já por muito tempo.

Naquela noite, como de costume, Nilk estava num lugar mais afastado do barulho ensurdecedor da festa, não por vontade dele, mas Léia não conseguia conversar em meio àquele som tão alto. Com suas habilidades auditivas, Nilk diversas vezes filtrava o som de forma a se concentrar apenas na voz de Léia. O modo como ele escutava e dava atenção ao que ela dizia deixava-a encantada. Nilk saiu por um momento da companhia dela, para conseguir algo para beber, quando viu algo que o chamou profundamente a sua atenção. Na bancada do barman, havia perto de Nilk um origami de um pássaro. Era impossível não notar a semelhança entre o tal, e o que a espiã Simone Dolak deixou de cortesia, antes de fugir de helicóptero com a partitura de A Inversão: Prelúdio. Ao aumentar sua curiosidade, Nilk pegou o objeto de papel e percebeu que a textura do material era exatamente igual ao da agente secreta. Ao abrir, porém, ele demonstrou reais feições de espanto. Dentro estava impresso o mesmo símbolo dos “S”s sombreados que continha no outro. Nilk olhou ao seu redor, assustado, quando por fim o mistério se consumou.

- Lembrou-se do cartão... então não se esqueceu de mim.

Simone Dolak, a espiã estava ali, ao lado de Nilk, com seu eterno olhar desafiador e sua beleza desconcertante. Uma das pessoas que Nilk acreditava que nunca mais veria na vida, voltava após 2 anos.

- Simone! O que está fazendo aqui? – perguntou Nilk, por falta de palavras.

- Sempre achei que vocês, brasileiros, fossem mais amistosos. Não vai me perguntar como eu passei nos últimos e longos dois anos, Nicolas?

- Eu ainda não estou acreditando no que estou vendo.

- Eu te perdôo pela indelicadeza. Mas, vim aqui para conversar contigo sobre algo muito importante.

- O que é?

- Não quero conversar neste barulho. Vamos lá pra fora.

- Acontece que, lá fora já tem alguém me esperando para conversar longe do barulho.

- Ahá... Então o moleque Nilk Narf está namorando?

- Sua surpresa me ofende. Só pra constar.

- Não é surpresa. É que, vendo você e a Raquel, eu achava vocês tão perfeitos um para o outro. Pena que não deu em absolutamente nada.

Era a primeira vez em muito tempo que Raquel era mencionada em uma conversa com Nilk. Naquele instante, memórias vieram à tona, tornando o raciocínio de Nilk um pouco mais lento, demorando assim, de responder a Simone.

- Acontece. – disse Nilk, friamente.

- Bom, o que estamos esperando? Vamos conhecer a felizarda. – disse Simone, puxando Nilk pelo braço.

Ao despontarem, Nilk e uma mulher extremamente bonita, com braços entrelaçados, não é difícil deduzir por que a jovem Léia, ficou repentinamente nervosa e não conseguia olhar Nilk nos olhos. Nilk se afastou de Simone depois, visto que se soltar do domínio de uma espiã não é tão fácil quanto parece.

- Olá, você deve ser a Léia. – disse Simone com um sorriso amistoso.

- Oi... – respondeu timidamente Léia.

- Léia, eu sou Simone... prima do Nicolas.

Léia olhou para a pele branquíssima das mãos de Simone contrastando com a pele escura de Nilk. Ficava difícil engolir a história da prima, mesmo em um país tão miscigenado quanto o Brasil.

- Meu pai, está passando por um problema seríssimo, e se fosse possível da sua parte gostaria de conversar com Nicolas em particular, por favor. – completou Simone.

- Ah, claro. Fique à vontade.

- Spasibo.

- Nilk, você me liga hoje? – perguntou Léia a Nilk, que já era novamente carregado por Simone.

- Como poderia esquecer? – disse ele, visando acalmar o palpitante coração da insegura moça.

Andando pelas ruas de Salvador, a caminho da praça, Nilk e Simone deram início à conversa pela qual ela cruzou o oceano.

- Então, do que se trata? – perguntou Nilk.

- Angelo. Como vai ele?

- Que pena. Gastou uma fortuna para atravessar o atlântico para me perguntar algo que se acha no Google. Não tem internet na Rússia?

- Tem. Vai testemunhar contra ele mesmo?

- Com certeza. Ainda mais que parece que tudo conspira a favor dele. A mansão foi encontrada em chamas e os documentos que Edson apreendeu se perderam na água. Ainda por cima a audiência foi adiada. Carlo fugiu da prisão, sabia?

- Sabia. Por que acha que ele fugiu?

- Não sei. Maluco ele, não acha? Quem precisa de liberdade?

- Não seja idiota, Narf. Pergunto pelo objetivo dele.

- Não faço ideia. Acha o quê? Que ele vem atrás de mim? E você veio me defender? Já sei você vai ser minha guarda-costas!

- Ele pode estar atrás de você. Mas existe outra possibilidade.

- Outra?

- Ele pode estar procurando a partitura.

- Ah, de novo esta partitura. Pelo amor de Deus. Eu a vejo todo santo dia no meu braço. – disse Nilk suspendendo a manga da camisa e mostrando as marcas da partitura que queimou seu braço.

- Interessante. Mas, não estou falando desta partitura.

- O quê? Acharam as outras?

- Como você sabe das outras? – Simone se espantou com o conhecimento antecipado de Nilk.

- É uma longa história. Não, na verdade não é longa, mas acontece que eu estou com preguiça de contar.

- Muito bem. O ponto é, precisamos achar a outra partitura, antes de Carlo. E para isso, precisamos de você.

Nilk calou-se por alguns segundos e após isso, irrompeu uma gargalhada.

- Acha que eu sou o quê? Um GPS?

- Não venha com gracinhas Nicolas. Sabemos que você pode ouvir até as conversas do locutor de rádio enquanto a música está tocando.

- Mas não consigo compreender o que ele fala.

- Ótimo. Você é perfeito. Partimos na segunda-feira.

- Espere um pouco. Pra onde vamos? E quem irá conosco?

- Rússia e ninguém.

- Rússia? – perguntou Nilk estático – E ninguém? Como assim?

- A Partitura está na Rússia. E é claro que somos apenas nós. Isto é uma missão, não uma viagem de férias.

- Mas eu não vou sem minha equipe.

- Equipe?

- Meu pai, Calvin e Edson.

- Grande equipe.

- Não se esqueça, Srtª Dolak, que se não existisse essa “grande equipe” hoje o país estaria nas mãos de Angelo, e você teria fracassado na sua missão. Ah, como foi gratificante te ver amarrada daquele jeito, tão vulnerável. Lembre-se que você não pôde fazer absolutamente nada. Nós somos os heróis.

Simone foi silenciada pelas palavras de Nilk.

- Só posso levar mais um. Escolha então.

- Vou pensar no seu caso.

- Vai pensar? Pois bem, eu irei te buscar em um helicóptero bem extravagante, em sua cidade. Se não vier, prepare uma ótima história pra contar pros seus vizinhos.

- Já sei uma história boa. Eu posso contar que foi uma agente secreta da Rússia. Todo mundo sabe que isso não existe.

- Narf, nos separamos aqui.

- Não diga isso que parte meu coração.

- Nicolas, seja menos insuportável. Você é tão sarcástico que não sei como tem certeza se o que fala pra aquela garota é verdade ou não.

- Que senso de humor mais cruel!

- Segunda-feira, Narf. Eu sei que meu desejo não significa nada pra você, e você me acha uma insensível sem coração, mas faça isso por mim. Leve quem quiser, mas vá. Por favor.

- Direi se vou ou não, assim que ver o helicóptero. É que eu só viajo de primeira classe.

Assim Simone se dispersou no meio da população soteropolitana, e Nilk voltou pra suas acomodações para, entre outras coisas, arrumar suas malas para a viagem à Salvação na manhã seguinte, e desta vez, levaria novas bastante perturbadoras aos que o esperavam.

Pela manhã, enquanto na embarcação que o levava à Salvação, o sol nascente dava uma iluminação amarelada encantadora ao dia que se apresentava.

Depois de desembarcar e viajar mais alguns quilômetros de ônibus, Nilk Narf estava em casa. Ao entrar, viu que seu pai estava no trabalho, ligou a televisão, jogou suas mochilas no primeiro canto que viu, abriu a geladeira, pegou um refrigerante, e se lançou no sofá. Pensou em ligar pra Calvin para passar as recentes informações de Simone, mas lembrou-se que ele também estava trabalhando àquele horário. Em meio a tudo que o permeava naquele momento, Nilk fechou os olhos e mergulhou em seus pensamentos quando uma vontade imensa de tocar piano se apoderou dele, fazendo-o correr para o instrumento. Aquilo podia se configurar um vício, mas era um vício que não precisava de remédio. Enquanto Nilk navegava por entre as notas que criava, a melodia o carregava como um rio da Sonata ao luar de Beethoven. Nisso ele conseguia organizar seus pensamentos, acalmar suas emoções e corrigir seus erros. Erros. Justamente o erro que interrompeu a bela melodia, causado pela lembrança de um erro maior ainda. Nilk se esquecera de ligar para Léia! Procurou desordenadamente seu celular em meio as suas coisas, dificultando o trabalho. Quando finalmente o achou, seu pai chegou com toda a alegria de ver o filho que agora passava mais tempo fora do que em casa e ia ficar um pouco mais desta vez.

Nilk não contou ao seu pai sobre o que Simone lhe falou, apenas disse que havia falado com ela. Almoçaram juntos e Nilk esperou Calvin juntar-se a eles para repassar a história. Por volta das quatro da tarde, Calvin chegou ao lar dos Narf. Depois de conversas simples e introdutórias, Nilk repassou-os o diálogo entre ele e Simone Dolak.

- De jeito nenhum – exclamou Gabriel – Você não vai chegar perto dessa gente de novo. Nós quase morremos envolvidos nessa moqueca.

- Mas pai, Angelo está preso agora e sabemos que a Suono é inimiga dele. Não há o que temer.

- Ah, - interrompeu Calvin – falando nisso, chegou uma carta de Edson pra nós, avisando que a data da audiência foi adiada para julho.

- Ótimo, temos tempo de ir.

- Deixe-me entender uma coisa, você quer ir? Ou não?

Nilk tentou desviar o olhar.

- Confesso que uma viagem grátis pra outro continente me parece bastante atraente.

- Não sairei daqui. – disse Gabriel. – São maiores de idade. Se quiserem ir, vão vocês dois. Apenas não se envolvam em problemas. Achem a partitura e retornem.

Nilk olhou pra Calvin de uma forma que se estivesse mal-trapido em uma sinaleira, as pessoas dariam a ele moedas de tanta pena que sentiriam.

- Então, parece que vamos pra Rússia. – declarou Calvin.

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